Wednesday, January 19, 2005

Meu cunhado

Ontem, durante uma operação, a Polícia Federal prendeu o diretor de uma empresa de financiamento imobiliário que aplicava o golpe da casa própria. Ao prender o cidadão, a polícia descobriu que havia um carro roubado em frente à casa do dito cujo. O tal do diretor, vendo que tinha se metido em mais encrenca, logo fez questão de ressaltar que o carro era do seu cunhado.

A cena me fez refletir sobre como os cunhados são figuras execradas na sociedade brasileira. Cada vez mais, esse ilustre personagem, que pega sua irmã e ainda come o último pedaço do pavê que sua mãe fez no domingo, tem aparecido como o grande anti-herói do país.

É incrível como os cunhados são sempre os culpados por tudo de ruim que acontece na sociedade. Se o cachorro caga no tapete da casa, o culpado é o cunhado, que ficou apertando a barriga do bicho. Se o seu time perde, é porque o maldito do cunhado secou o clube. Se a cerveja tá quente, é porque o babaca do cunhado esqueceu de colocar gelo no isopor. Se sua irmã aparece embuchada, é porque o desgraçado do cunhado esquece de colocar a camisinha.

É realmente um fenômeno impressionante. Qualquer dia desses, os cunhados (que se fossem algo bom não começavam com CU, como diz um ditado popular) tomam o lugar das sogras no posto de estorvo da nação. Daqui a pouco, será comum um gaiato chegar num boteco e falar: "Aí vocês conhecem a última do cunhado?". E aí conta aquela piada: "Você sabe qual a diferença de um gay para um cunhado?" ou "Sabe o que um português falou prum cunhado?".

Eu mesmo sou um que faço questão de pichar o coitado junto à minha família. Faço questão de soltar aquele mega-peidão quando o dito cujo entra em casa, só pra culpar o cara. E ainda completo: "Tá vendo, mãe? É essa máquina de peidar que tá entrando na nossa família. Se eu fosse meu pai, não dava a mão da minha irmã pra esse peidorrento".

Outro dia, eu soube que minha irmã estava no telefone com meu cunhado e fiquei pentelhando, falando pra ela desligar o telefone que eu queria ligar pro 0300 da Globo e fazer uma doação pro Criança Esperança.

Minha mãe vive me dizendo: "Poxa, você precisa tratar melhor seu cunhado. Coitado dele...". Coitado dele? Coitado é de mim, que tenho que aturar um zé ruela usando meu barbeador e ainda batendo nas minhas costas e falando "Valeu, cunhadão"... Dá vontade de responder: "Valeu é o cacete", puxar um tresoitão e estourar os miolos do desgraçado. "Isso é por você usar meu gilete". E enquanto ele se estribucha no chão, largo outro teco. "E esse é por você usar todo o papel higiênico da casa e ainda deixar o seu barro boiando na privada. Parece que não sabe que já inventaram a privada...". E mais um tiro: "E esse é por você secar o meu time toda vez que o jogo passa na Globo"...

É isso... Mas, na verdade, não sei por que a sociedade crucifica tanto os cunhados...

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